O bitcoin retornou, esta semana, ao foco das discussões de investimentos, após ter alcançado um valor recorde resultado de um período curto e recente de intensa valorização. Para ilustrar o quão valorizada está a criptomoeda, podemos compará-la ao real brasileiro: enquanto 1 real vale, hoje, apenas 19 centavos do dólar americano, 1 bitcoin vale 46 mil dólares. Em março do ano passado, o bitcoin estava cotado em cerca de U$ 5 mil, levando menos de um ano para atingir o patamar atual.

Tesla, a empresa do homem mais rico do mundo, Elon Musk, foi a mais recente notável a fazer aporte substancial em bitcoin, tendo declarado nesta segunda-feira (8) a compra de 1 bilhão e 500 milhões de dólares da moeda virtual. Adicionalmente, declarou que pretende aceitar, em breve, pagamentos em bitcoin por seus produtos, o que faria da companhia a primeira grande fabricante de automóveis a aceitá-los.

Musk, por sua vez, tem sido peça fundamental nessa valorização. Apenas ao adicionar a hashtag #bitcoin à sua descrição no Twitter, fez seu valor subir 20%. Em seguida teceu comentários positivos sobre a moeda na Clubhouse, uma rede social de comunicação exclusivamente por áudio que vem se tornando bastante popular no mundo.

O que é mesmo?

A mais popular dentre as criptomoedas, o bitcoin é um ativo que em muitos aspectos se assemelha ao real, ao dólar e ao euro, mas que existe apenas digitalmente. Ele não é emitido ou regulado por um banco central e suas transações não necessitam de intermediários. Sua rede ponto a ponto distribui a responsabilidade da verificação. O próprio ato de colaborar com a verificação das transações é que provoca emissão da moeda, mas de forma limitada.

Volatilidade

O preço do bitcoin ainda é considerado bastante instável, tendo apresentado ao longo dos anos, desde sua introdução no mercado em 2009, grandes ascensões e também grandes quedas. Em dezembro de 2017, atingindo uma alta recorde, estava cotado em 18 mil dólares. Entretanto, ao longo do ano seguinte sofreu uma queda acentuada que despencou sua cotação aos U$ 3 mil.

A queda de 2018 contrasta fortemente com a curva de valorização atual. Apenas em 2021, num período que compreende ainda pouco mais de um mês, o preço do bitcoin já subiu cerca de 60%. E investir na moeda virtual não foi bom negócio apenas para quem entrou no barco este ano: 2020 acumulou uma valorização de mais de 300%.

Essa volatilidade se deve ao fato de o preço do bitcoin ser apenas influenciado pela procura. Não há um lastro para a moeda em termos de outra ou outras riquezas, e não há uma instituição que emite moeda estrategicamente para regular seu valor. Da mesma forma, a proteção patrimonial é relativamente frágil. Apenas uma chave privada assegura a propriedade de uma carteira. A volatilidade e a fragilidade da segurança tornam o bitcoin, na visão de analistas, um investimento de alto risco.

Eliminando a ideia de bolha

O bitcoin já foi reiteradamente declarado uma bolha financeira, um tipo de investimento que sofre grande valorização puramente especulativa e desproporcional até que seu valor real venha a público causando enormes prejuízos a vários atores do mercado e efetivamente prejudicando a economia de nações inteiras. Diversos laureados com o prêmio Nobel de ciências econômicas e outros grandes economistas já desaprovaram a moeda, mas os recentes aportes de grandes empresas e fundos de investimento têm surtido bastante efeito no sentido de afastar esse receio e conferir segurança aos investidores.

Antes da grande aquisição por parte da Tesla, várias companhias de grande relevância fizeram, em 2020, fortes acenos na direção da aceitação do bitcoin como um investimento válido. Uma delas foi a PayPal, que passou a aceitar pagamentos com essa e outras criptomoedas, concretizando uma antiga promessa a seus usuários.

A Square, companhia de serviços financeiros e pagamentos móveis cofundada por Jack Dorsey, que também cofundou o Twitter, afirmou que essa moeda virtual é um instrumento de autonomia financeira cujo fluxo no mercado deve crescer, após adquirir U$ 50 milhões em bitcoin em outubro do ano passado.

A MicroStrategy, gigante do mercado dedicada ao desenvolvimento de plataformas de serviços de inteligência para negócios, anunciou em dezembro a compra de mais de 1 bilhão de dólares em bitcoin.

Ray Dalio, um dos maiores investidores do mundo e fundador da gestora de ativos Bridgewater Associates, disse ainda em dezembro que a escassez do bitcoin é comparável à do ouro e que, por isso, seria uma alternativa interessante para resguardar a carteira dos investidores.

Emissão sob controle

A regulação da quantidade de bitcoins disponível na rede é realizada de forma automática e segue um protocolo fixo, estabelecido pelo código fonte, público, do programa. Uma certa quantidade de bitcoins é criada como resultado do processo de mineração, que é a manutenção comunitária dos registros de todas as transações. Essa criação é bem distribuída no tempo, levando em consideração o esforço computacional de mineração da rede, e a quantidade criada é dividida pela metade a cada 4 anos aproximadamente. Isso estabelece um limite superior para a quantidade total de bitcoins que poderá existir: 21 milhões. Nunca haverão mais de 21 milhões deles no mercado, mas além disso se garante que, enquanto eles estiverem sendo criados, serão criados num ritmo cada vez mais lento.

Bruno Diniz, especialista em negócios digitais, também avalia esse aspecto da quantidade segura do ativo no mercado como uma segurança atrativa, uma vez que, sobretudo agora no contexto dos esforços de combate à pandemia, os bancos centrais de muitos países estão praticando emissão de dinheiro e levantando grandes preocupações com a inflação.

O bitcoin ainda está em processo de se consolidar como forma de pagamento amplamente aceita de bens e serviços, e ainda é esperado que as oscilações de preço se mantenham por alguns anos. Entretanto, é cada vez mais compreendido como um bom tipo de investimento para longo prazo, não-emergencial, uma vez que a retirada a curto prazo pode coincidir com uma das frequentes e temporárias recaídas, levando à perda de capital.