A população brasileira precisou trabalhar 149 dias este ano, ou seja, até o dia 29 de maio, apenas para fazer o pagamento de impostos. É o que diz o levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).

Para a realização da pesquisa, foram levados em consideração impostos, taxas e todas as contribuições exigidas pelos governos municipal, estadual e federal. O levantamento também considerou a redução das atividades econômicas no Brasil, por causa do momento da pandemia, já que, em razão do isolamento social, ocorreu uma retração na produção e circulação de riqueza no país.

O cálculo do número de dias trabalhados foi realizado de acordo com a renda, considerando-se o período de maio de 2020 a abril de 2021. Usou-se, para finalidade de fins tributários, a faixa mensal de rendimentos de até R$ 3 mil (classe baixa), de R$ 3 mil a R$ 10 mil (classe média) e acima de R$ 10 mil (classe alta).

De acordo com o presidente executivo do IBPT, João Eloi Olenike, mesmo com a pandemia a média de dias de trabalho para pagar impostos ainda se mantém muito alta. “O brasileiro ainda trabalha muitos dias do ano apenas para fazer o pagamento de impostos sobre a renda, o patrimônio e consumo. Além disso, tem que pagar por serviços particulares para suprir a falta governamental, no que diz respeito ao retorno péssimo da arrecadação em termos de qualidade e quantidade, na oferta dos serviços públicos para a população”, apontou.

Média de dias trabalhados para pagar tributos cresceu

A média dos dias trabalhados por década para fazer o pagamento de tributos cresceu, de acordo com o IBPT. Hoje, segundo a pesquisa, se trabalha quase o dobro do que se trabalhava na década de 70 para pagar impostos. Em 1970, eram 76 dias. Já em 2000, o Brasil alcançou uma média de 138 dias. E, em 2020, uma média de 151 dias trabalhados para pagar tributos. Confira:

  • 1970 – 76 dias trabalhados para pagar tributos;
  • 1980 – 77 dias trabalhados para pagar tributos;
  • 1990 – 102 dias trabalhados para pagar tributos;
  • 2000 – 138 dias trabalhados para pagar tributos;
  • 2010 – 141 dias trabalhados para pagar tributos;
  • 2020 – 151 dias trabalhados para pagar tributos.

Moreno diz que a circulação de riqueza teve um grande avanço no Brasil no passar dos anos, assim como o acesso a bens e serviços, juntamente da concentração populacional nas cidades. Este cenário, na avaliação dele, leva a esse crescimento de décadas de arrecadação.

“Antigamente, antes da década de 70, as famílias tinham grande espaço na zona rural, com economia de subsistência. Depois, começou a ocorrer um aumento da urbanização, o que facilita o Fisco ter um controle dos tributos. Além disso, as pessoas começaram a ter uma propriedade na cidade, a pagar IPTU, sem contar de serem consumidoras locais. Elas passaram a ser demandantes de deveres e obrigações dentro da cidade”, é o que explica Moreno.

Percentual do salário destinado para pagamento de impostos

Os dados do IBPT trazem também uma análise referente ao percentual do valor do salário que o contribuinte precisa destinar para pagar tributos. Segundo o resultado da pesquisa feito pelo instituto, significa dizer que a tributação em relação à renda, patrimônio e consumo, levando-se em consideração o rendimento médio brasileiro, está hoje em 40,82%. É como dizer que o valor pago em imposto representa mais de 40% do rendimento médio dos brasileiros.

Comparativo com outros países

O estudo também mostra um comparativo entre Brasil e outros países em relação aos dias trabalhados para pagar impostos, seguindo a mesma metodologia. Para realizar a avaliação dos demais países, foi considerado pelo IBT a base de dados mais recentes, ou seja, de 2019, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

De acordo com o levantamento, entre os 10 países com maior quantidade de dias trabalhados para pagar tributos, o Brasil ocupa a 9ª posição. Confira o ranking abaixo:

  1. Dinamarca – 179 dias trabalhados para pagar impostos;
  2. Bélgica – 171 dias trabalhados para pagar impostos;
  3. França – 163 dias trabalhados para pagar impostos;
  4. Finlândia – 159 dias trabalhados para pagar impostos;
  5. Noruega – 159 dias trabalhados para pagar impostos;
  6. Áustria – 158 dias trabalhados para pagar impostos;
  7. Suécia – 156 dias trabalhados para pagar impostos;
  8. Itália – 156 dias trabalhados para pagar impostos;
  9. Brasil – 149 dias trabalhados para pagar impostos;
  10. Alemanha – 148 dias trabalhados para pagar impostos.

Moreno destaca que o Brasil aparece no ranking em meio a países do primeiro mundo. “O que os números dizem é que a carga tributária do Brasil está a nível de primeiro mundo. O que não está é o outro lado da moeda, o retorno do poder público”, diz ele. Segundo ele, se o Brasil quer ser desenvolvido, com sociedade satisfeita com seu governo e administradores, não vai ser possível fugir do alto preço de impostos.