Na Eslováquia, na última segunda-feira, 28/06, um protótipo de carro voador teve sucesso em um teste de voo entre os aeroportos internacionais de Nitra e Bratislava, com duração de cerca de 35 minutos.

Equipado com um motor BMW, o AirCar, um híbrido de carro e avião, diferentemente de outras aeronaves de pequeno porte que demandam gasolina de aviação, usa como combustível a gasolina comum e tem autonomia para voar cerca de mil km, a uma altura de 2,5 mil metros. É capaz de carregar até duas pessoas, num peso combinado de 200 kg.

O voo, inclusive, não foi, de modo algum, o primeiro do veículo. O AirCar já havia acumulado mais de 40 horas de voo antes da realização do teste em questão.

Para alternar entre o modo de funcionamento como avião e o modo de funcionamento como carro, o protótipo precisa passar por uma transformação, automática, em que as asas são dobradas para cima e então abaixadas para trás, acompanhando a lateral do carro e a cauda é recolhida. Encurtada, ela passa a atuar como aerofólio. O veículo precisa permanecer estático durante o processo, que dura 2 minutos e 15 segundos.

Repórteres foram convidados pelo criador do protótipo, o professor Stefan Klein, para assistir ao teste de voo. No ar, o híbrido atingiu a velocidade de cruzeiro de 170 km/h. Segundo o professor, a experiência foi “normal” e “muito agradável”.

Já existem protótipos de drone-táxi que podem decolar e pousar verticalmente, mas o AirCar, como os aviões, exige tanto uma pista para decolagem quanto uma para aterrissagem.

Mercado promissor

Já há muito tempo anunciados na cultura popular como marcos visionários do futuro, os carros voadores constituem um mercado em que se depositam grandes expectativas, pois são vistos como uma potencial solução para os graves problemas de tráfego urbano.

A expansão vertical das vias de transporte pode promover um aumento muito significativo da área viária, desafogando as ruas e estradas das grandes cidades e acomodando um número muito maior de veículos.

A Hyundai Motors é uma das gigantes automobilísticas que enxerga esse potencial. Michael Cole, presidente-executivo do braço europeu da companhia, afirmou que o conceito “é parte do nosso futuro”, em um evento recente da indústria.

Em janeiro de 2020, na maior feira de tecnologia do mundo, a CES, a Hyundai já havia apresentado seu conceito de carro voador. Na ocasião, o modelo batizado de S-a1 foi descrito como capaz de comportar quatro passageiros mais o piloto.

O equivalente a quase R$ 11 milhões (pouco menos de 2 milhões de euros) foram investidos no desenvolvimento do AirCar, que durou dois anos, de acordo com a empresa responsável, a Klein Vision.

Anton Rajac, um dos investidores da empresa e também consultor, ressalta que atinjiriam enorme sucesso mesmo se conseguissem atrair apenas uma pequena porcentagem das vendas globais de companhias aéreas ou táxis.

“Existem cerca de 40 mil pedidos de aeronaves apenas nos EUA. (…) E se convertermos 5% desses pedidos para carro voador, temos um mercado enorme”, declarou Anton.

Questionamentos sobre a regulamentação

O filho de um Bugatti Veyron com um Cesna 172. É assim que Stephen Wright, pesquisador sênior de aeronaves na Universidade do Oeste da Inglaterra, descreve o protótipo da Klein Vision. O que, acrescenta, parece muito bacana, mas levanta uma infinidade de perguntas sobre o processo de certificação.

Dado que carros têm já seus próprios e diversos processos de certificação, com uma regulamentação complexa em diversos aspectos incluindo, principalmente, aspectos de segurança, e aeronaves também possuem os seus próprios conjuntos de regulamentações e certificações, diferentes daqueles dos automóveis, não só seria complexo respeitar e adquirir todas elas para um único veículo, mas muito provavelmente seria necessário criar novos conjuntos, próprios da fusão.

Segundo Stephen, dado seu campo de conhecimento, a façanha não reside mesmo em se criar um avião, mas sim em se criar um avião que voe por um milhão de horas, com um ou mais passageiros, sem incidentes. Cumprir as demandas das certificações de segurança é o que o pesquisador considera como o próximo desafio para o AirCar.