Uma pesquisa global da ADP Research Institute, feita com mais de 30 mil trabalhadores formais e freelancers em 17 países, aponta que caiu a confiança no mercado de trabalho em relação ao ano passado, sendo que a geração Z (nascidos entre 1995 a 2003) foi a que mais sentiu que a vida profissional foi prejudicada em razão da pandemia.

Embora grande parte (86%) dos profissionais ainda revele otimismo a respeito dos próximos 5 anos no local de trabalho, esse número é menor do que os 92% da pesquisa anterior. Essa diminuição vem em razão de que 28% relatam ter perdido o emprego, temporária ou permanentemente, ou recebido dispensa temporária parcial remunerada. Além disso, quase 1 trabalhador em 4 (23%) teve que aceitar um corte de salário.

A pesquisa mostra ainda que o impacto na segurança do trabalho e no otimismo é desigual, com os trabalhadores mais jovens sendo os mais afetados. Quase 4 em cada 5 (78%) dos trabalhadores da geração Z sentem que as suas vidas profissionais foram afetadas, e em seguida 2 em cada 5 (39%) dizem que perderam o emprego, foram dispensados ou sofreram uma dispensa temporária do seu trabalho. Por consequência, o otimismo entre a geração Z caiu de 93% para 83%, maior queda vista entre as gerações.

Entre os brasileiros, também é possível perceber o declínio quanto ao otimismo sobre a relação de trabalho nos próximos 5 anos, porém a oscilação foi pequena quando comparada à medida global, com 86% dos trabalhadores se sentindo otimista, frente aos 89% do estudo feito anteriormente.

Aumento de horas não remuneradas

As horas extras não pagas alcançaram a média de 9,2 horas por semana, aumento em comparação às 7,3 horas do ano de 2020. O número de “horas gratuitas” fornecidas às empresas é maior entre os trabalhadores híbridos, que dividem o tempo de trabalho entre a casa e o escritório.

Ao mesmo tempo, os trabalhadores sentem que podem se beneficiar de acordos de trabalhos flexíveis, afirmação realizada por 67% deles, contra 26% antes da pandemia. Praticamente metade (47%) diz que seus gerentes permitem uma flexibilidade maior do que a oferecida na política da empresa.

E quase metade também (46%) dos entrevistados globais disse que assumiu responsabilidades adicionais no trabalho, seja para compensar colegas que perderem suas funções – em especial quando se fala em trabalhadores essenciais (55%) – ou para lidar com a carga de trabalho extra que a pandemia desenvolveu.

Na América Latina, a proporção do trabalho extra não remunerado aumentou de modo significativo, com média em toda a região chegando a 6,5 horas por semana, contra 4,5 antes da pandemia acontecer.

Remuneração e desempenho

Os trabalhadores confessam que as mudanças no local de trabalho ofereceram oportunidades para o desenvolvimento de novas habilidades ou embarcar em novas trajetórias de carreira que consideram interessantes ou revelam o seu potencial de formas imprevistas.

Mais de 1 a cada 4 trabalhadores (28%) disse ter assumido uma nova função ou mudado o seu escopo de trabalho em razão da perda de empregos em sua empresa. Mais uma vez, os trabalhadores da geração Z tiveram que mostrar agilidade, com mais de 1 em cada 3 (36%) mudando de função.

Grande parte dos funcionários foram recompensados financeiramente por seu comprometimento e desempenho, com quase 7 em cada 10 (68%) recebendo um aumento de salário ou bônus.

Entretanto, o problema de pagamentos afetou mais de 3 em cada 5 trabalhadores (63%), e há ocorrência também de atrasos. Mesmo quando a remuneração é calculada corretamente, a falha de alinhamento entre os cronogramas de pagamento e o vencimento das contas pessoais acarretou em problemas financeiros para uma quantidade significativa de trabalhadores (24%).

Mobilidade no trabalho

A pandemia ainda levou 75% da força de trabalho global a mudar ou fazer mudança em moradia, chegando a mais de 80% na geração Z. Além disso, 1 em cada 7 trabalhadores (15%) está tentando passar para um setor que acredita se tornar mais seguro no futuro.

Mais da metade (54%) da força de trabalho do mundo diz estar interessada em trabalhos por projetos desde o início da pandemia, já que acredita que existem novas oportunidades para executar trabalhos por contrato (35%) ou porque desenvolveu novas habilidades que pode aplicar nessa modalidade (32%).

Os trabalhadores mais velhos se encontram mais abertos à ideia da mudança para o trabalho por contrato (29% dos maiores de 55 anos e 22% dos 45 aos 54 anos), em seguida a geração Z (19%). Entretanto, grande parte dos trabalhadores (83%) ainda escolheriam um emprego permanente e tradicional ao invés de trabalhos por contrato, assim a proporção se mantém estável em comparação ao ano de 2020.

Trabalho X vida pessoal

Dois terços (67%) dos trabalhadores afirmam que foram forçados a conciliar o trabalho e a vida pessoal por conta do impacto da pandemia e o estudo ainda apontou pontos preocupantes específicos para as mulheres e para quem tem filhos.

Entre os pais que trabalham (mães e pais), 15% dizem que eles, ou outra pessoa da família, deixaram o emprego voluntariamente, um número que chegou a quase 30% entre pessoas com crianças menores de 1 ano de idade.

Pouco mais da metade dos entrevistados (52%) acredita que os benefícios liberados para os pais e mães dados pelos empregadores serão excluídos em até 1 ano. Neste cenário, as mulheres são mais propensas a relatar dificuldades para controlar o estresse e a ter mais questionamentos quanto às perspectivas de emprego do que os homens.