Segundo a pesquisa feita pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), um dos grandes impactos decorrentes da pandemia do coronavírus foi o modo de consumo dos brasileiros.

Hoje nove em cada dez paulistanos (90,9%) dizem que, em razão da crise do covid-19, mudaram os padrões de consumo. O número é 18,6 pontos percentuais maior do que o registrado pela Federação em outubro de 2020 – quando, no mesmo levantamento, 72,3% das pessoas apontavam ter mudado os hábitos de compras.

A Federação ouviu, assim como havia sido na primeira vez, 400 brasileiros em todo o Estado de São Paulo entre os meses de outubro de 2020 e maio de 2021. Para a entidade, o aumento é explicado, em primeiro lugar, pelo agravamento da pandemia no primeiro trimestre deste ano, adiando a esperada retomada econômica do Brasil. Ao contrário, com a queda nas taxas de emprego e crescimento do custo de vida, as pessoas estão evitando arriscar o orçamento, especialmente com itens não essenciais.

Medidas emergenciais

No entanto, é interessante observar, em segundo lugar, que os programas de auxílio emergencial e as medidas adotadas pelo Poder Público e pelas empresas com o objetivo de conter a crise tiveram impacto na percepção da renda: por exemplo, diminuiu o número de pessoas que notaram queda nos rendimentos – era metade (53,5%) da população em 2020, ao passo que em 2021 é de 41,1%. Na contramão, aliás, subiram os respondentes que disseram ter mais renda hoje do que antes da pandemia: 10,4%, em comparação a 6,5% em outubro de 2020.

Estes dados ajudam a entender porque segmentos como vestuário e turismo tiveram contextos mais turbulentos ante a outros, como habitação e educação, por exemplo. Sete em cada dez entrevistados (69,3%) afirmam ter cortado gastos com viagens turísticas durante a pandemia – mais do que o dobro que foi registrado na primeira pesquisa, em outubro de 2020 (30,3%). Já 64,1% deles estão consumindo menos em lojas de calçados e roupas, um aumento de 22,3 pontos percentuais ante ao ano anterior, que era de 41,8%.

Por outro lado, a pesquisa de agora mostra que os paulistas ajustaram as ordens de prioridade, passando a ter menos gastos com educação, somente 5,2% dos entrevistados cortaram esse tipo de gasto, em comparação a 10% em 2020, e com artigos do lar, 3,9% hoje e 6,8% em 2020. São números que apontam como, em meio a tantas quarentenas, as pessoas decidiram investir em cursos que podem ser realizados a distância e na adaptação da casa aos períodos de isolamento.

No entanto, os impactos nos padrões de consumo não são somente da ordem de custos. Na realidade, os consumidores parecem estar mais conscientes do próprio papel, bem como as empresas, nas questões mais sustentáveis e socialmente responsáveis – que, em todo o mundo, tem sido discutido dentro do conceito de EGS: se metade deles já se importava com o tema antes da pandemia, outras 24,2% dizem que passaram a levá-lo em conta antes de adquirir um produto ou serviço.

Estes dados mostram, na compreensão da FecomercioSP, que as empresas serão cada vez mais pressionadas, pela legislação ou pelos consumidores, a levar em consideração as questões ambientais e de responsabilidade social. É uma postura que, mais do que ser viável economicamente, já que agrega valor ao negócio, é imperativa: quem não se adapta, perderá vigor no mercado.

Delivery

Um dos destaques mais relevantes é que, ao contrário do que acontecia em 2020, agora a demanda por serviços de delivery de comida é superior ao hábito de cozinhar em casa, comprando os alimentos em supermercados.

Hoje, seis em cada dez paulistas (65,8%) dizem que estão pedindo refeições através de aplicativos de entrega com mais frequência do que antes da pandemia. Este número era de 55,5% em outubro de 2020. Por outro lado eles dizem, agora, que preparam os alimentos em casa com muito mais frequência do que faziam até a chegada do covid-19. No ano passado, o percentual era de 72,3%, agora foi de 64,1%.

Para a Federação, isso ocorreu por vários fatores: um deles é que, em casa, as pessoas passaram a fazer uso dos aplicativos para consumo com mais frequência. Era uma tendência já vista em 2020, mas que cresceu de forma significativa. Outro é que, com a rotina doméstica mais organizada, o hábito de cozinhar em casa perdeu a força que tinha no início da quarentena.

Por outro lado, a tendência de entregar voucher de presentes online aos consumidores para estimular o consumo a distância apontou um aumento tímido: em outubro de 2020, era de 18,8% e agora a taxa é de 22,9%. Isso se explica facilmente pela importância cultural que o brasileiro atribui ao ato de entregar presentes em mãos, sem distanciamento social.