Tem vezes que algumas empresas assumem com tanta clareza a liderança de vendas ou de assinantes de algum setor ou serviço que não há qualquer dúvida de que aquela empresa é mesmo a líder. 

Por exemplo, embora os mais antigos tenham uma vaga lembrança de marcas como Cadê? e Yahoo, hoje não resta muito dúvida que o buscador online mais utilizado no mundo é o Google. Usar de outras plataformas para encontrar algo na Internet é até mesmo um esforço para os usuários.

(Fomos pesquisar. O Yahoo! comprou o Cadê? – que era uma empresa brasileira, fundada em 1995. O Yahoo! ainda existe como buscador. Inclusive, no começo ofereceram o Google para o Yahoo! comprar, mas eles não quiseram…)

Outras marcas, por exemplo, se consolidam tanto – por serem pioneiras – que se tornam sinônimo do produto. É o caso da Gillette e do Cotonete – e também da Havaianas, que vamos comentar mais depois.

 

O que leva uma empresa a ser líder de um determinado setor?

Existem duas possibilidades para que uma empresa assuma a liderança de um setor. As duas têm a ver com criatividade e inovação.

A Coca-Cola, por exemplo, inicialmente era vendida em farmácias. Por ser um produto químico, era lá que era distribuída pela fábrica.

Com o passar do tempo, passou a ser vendida como uma bebida para a família – dentro dos bares. Como a bebida alcoólica era bebida de homens adultos – quando a Coca-Cola nasceu, naquela sociedade patriarcal, que fique claro – a Coca passou a ser a bebida que o homem levava para consumir com sua família.

Neste caso, a criatividade não estava apenas na invenção do produto, mas no marketing, na comunicação do produto, na mudança do local em que ele seria vendido. Tudo isso fez com que a marca se consolidasse.

Outro exemplo está na liderança da marca de chinelos de dedos Havaianas.  Antigamente vendida para consumidores das classes baixas, o chinelo de dedo – da Havaianas ou de qualquer marca – era tido como de uso de pessoas pobres e com empregos com menos remuneração – domésticas, pedreiros.

A comunicação da Havaianas, então, passou a usar o slogan “Havaianas. Todo mundo usa”, e a ter, em suas propagandas de TV e impressas, o formato de uma pessoa famosa e uma pessoa comum – geralmente com aparência de ser de classe média -, dando a ideia de que tanto famosos como pessoas comuns usavam o chinelo de dedo.

A comunicação foi tão assertiva que hoje é possível imaginar até mesmo modelos internacionais usando Havaianas – e veja, não qualquer chinelo de dedo, mas Havaianas.

Mas a liderança pode ser alcançada apenas porque a marca foi a primeira a começar a fazer o produto. Neste caso a criatividade, mais do que na comunicação, está mesmo no processo de inovação de produtos e serviços. É o caso da Netflix. 

 

A Netflix 

A Netflix não nasceu líder. Aliás, nasceu de uma maneira bem mais modesta que a líder do seu segmento, a Blockbuster. Em 1997, quando a Netflix foi fundada, ela era apenas uma locadora de DVDs pelo correio. A Blockbuster – a líder em aluguel de filmes, e, portanto, a maior concorrente – continuava a operar apenas por lojas (gigantes) físicas. 

Embora a Netflix já representasse uma inovação – por alugar pelo correio – ainda faltava que esta inovação fosse mais profunda.

 

Streaming

Foi 10 anos após a sua fundação – no ano de 2007 (já faz 15 anos) – que a Netflix inovou de maneira ainda mais profunda, quebrando uma bolha. Parou de alugar DVDs e criou a própria plataforma de streaming – o sistema que a gente conhece muito bem.

Enquanto a Netflix crescia, como pioneira e absoluta no ramo de streaming, a Blockbuster foi desaparecendo. Após 3 anos, em 2010, a Blockbuster declarou falência, e a Netflix contava com 16 milhões de assinantes. E um faturamento de US$ 2 milhões anuais.

 

A entrada de outras empresas no mercado

De 2010 até 2020 a Netflix viu seu número de assinantes crescer de maneira vertiginosa. Até aquele ano, ela contava com aproximadamente 150 milhões de assinantes.

Vendo este crescimento, ao menos duas gigantes do entretenimento entraram no mesmo mercado para concorrer com a pioneira. A Disney, com a plataforma Disney+, e a HBO, com a plataforma HBO MAX. 

Enquanto entre 2020 e 2022 a Netflix vem perdendo o embalo inicial no crescimento do número de assinantes – em 2020 tinha cerca de 190 milhões de assinantes, e em 2022 tem cerca de 222 milhões, o crescimento de assinantes da Disney+ foi de 0 em 2020 (quando nasceu) até 130 milhões em 2022. Se contar os assinantes das plataformas Hulu e ESPN+, que pertencem à Disney, o número de assinantes cresce para 196 milhões – porém, ainda abaixo da Netflix.

Já o HBO MAX foi de 50 milhões de assinantes até 74 milhões em 2 anos – uma perspectiva menor de crescimento.

 

Consequências da entrada da Disney no mercado

A divulgação dos números de assinantes pela Disney+, ocorrida no último final de semana, fez o preço das ações da empresa crescerem 10%. Por outro lado, o preço das ações da Netflix, diante da desaceleração no número de assinantes, tiveram queda de 20% após a divulgação.

Mas a melhor consequência está para o consumidor, que, com a concorrência, passa a poder contar com cada vez mais qualidade nas produções. A Disney planeja investir US$ 23 bilhões em conteúdo. Já pela Netflix, o planejamento é investir US$ 17 bilhões.

É mais qualidade e quantidade – o que para alguns, é um problema, pois está cada vez mais difícil tomar uma decisão de o que assistir.