Pelo segundo mês seguido, o Indicador IPEA de Inflação Por Faixa de Renda registrou, no mês de março, alta da taxa para todas as faixas econômicas. Nesse caso, os núcleos familiares mais atingidos foram as de renda média (ganhos entre R$ 4.127,00 e R$ 8.254,00) e média alta (R$ 8.254,00 e R$ 16.509.00).

No grupo de renda média a inflação do mês de fevereiro para março saiu de 0,98% para 1,09%. Já no segundo grupo, de média alta, passou de 0,97% para 1.08%. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) na terça-feira (13).

Assim como aconteceu em fevereiro, o segmento de Transporte foi o principal responsável pela alta da inflação em todas as faixas de renda, no mês de março. De forma isolada, o aumento de 11,2% no valor do combustível impactou, de forma mais forte, as famílias mais ricas, mas outros fatores fizeram a inflação do período pesar mais para classes menos abastadas.

De acordo com a pesquisadora do Grupo de Conjunto do IPEA, Maria Andréia Lameiras, quando o combustível se eleva, sempre a inflação dos mais ricos tende a ser a mais afetada, porque esse grupo consome mais do que os núcleos familiares pobres, que também são impactados, mas de forma menor.

No entanto, as famílias mais ricas tiveram um certo alívio inflacionário nesse segmento de transporte, pois houve uma diminuição de 2% no preço das passagens aéreas e de 3,4% nos valores cobrados pelos aplicativos de transportes, como o Uber e 99pop, por exemplo. Logo, a classe mais alta, de alguma maneira acabou tendo a inflação amenizada, pois apesar do aumento do combustível teve essa queda já mencionada.

Por sua vez, os reajustes de 1,84% no preço dos trens e 0,11% nos preços dos ônibus, passaram a pesar no bolso da classe econômica mais baixa. Sendo assim, o transporte afetou todos, mas de forma diferente para cada família.

Habitação

As famílias mais pobres tiveram a pressão da Habitação, o que acabou contribuindo para a alta inflação dessa faixa econômica, em especial por conta do aumento de 5% do botijão de gás, de 0,76% da energia elétrica e de 1,1% dos produtos de limpeza.

Já no grupo das famílias mais ricas, o segundo maior impacto foi decorrente de Alimentos e Bebidas, uma vez que houve um reajuste de 0,89% em alimentação fora de casa. Segundo a pesquisa, a aceleração da inflação foi amenizada pelo desempenho dos alimentos em domicilio, que registrou deflação de 0,17% em outubro de 2019.

“A população de baixa renda gasta mais com comida, transporte público e despesas domiciliais, como o gás de botijão e energia elétrica, assim praticamente todo o orçamento dessas pessoas vão para esses itens. Já os mais ricos têm plano de saúde, mensalidade escolar e despesa com cabeleireiro, então tudo acaba sendo mais diluído para esse grupo. Os mais pobres consomem menos coisas, logo quando uma delas tem o seu preço elevado, isso pressiona bastante a inflação deles”, disse Maria Andréia.

Comparação

Quando se compara março de 2021 com o mesmo período do ano passado, também houve um aumento nos preços e as famílias mais ricas apontam as maiores altas. A inflação para quem recebe até R$ 1.650,50 passou de 0,25% em março de 2020 para 0,71% em março de 2021. Já para faixa acima de R$ 16.509,66, a variação saiu de -0,20% para alta de 1%.

A pesquisa também apontou que, além do impacto dos combustíveis nesse ano, a aceleração inflacionária para as famílias mais ricas é facilmente explicada pela pressão do grupo de Defesas Pessoais, com alta de 0,04% ante recuo de 0,23% em março de 2020 e deflação menor das passagens aéreas quando comparadas ao mesmo período em 2020.

No acumulado do ano, as famílias mais ricas registram pressão inflacionária maior do que as mais pobres. No grupo das rendas mais altas a inflação acumulada nos 3 primeiros meses de 2021 ficou em 2,3%. Já para as famílias mais pobres, o acumulado ficou em 1,6%.

Apesar disso, a inflação das famílias mais pobres (7,2%) segue acima das mais ricas (4,7%) em comparação a inflação acumulada no último ano (abril de 2020 a março de 2021).

Vacinação

A inflação dos mais pobres em 2021 tende a ser menor do que os mais ricos em razão do comportamento dos preços dos alimentos que devem diminuir. De acordo com Maria Andréia, com o avanço da vacinação do coronavírus, a partir do segundo semestre, a economia do Brasil tende a voltar a um desempenho perto do que tinha antes da pandemia, em 2019. Afinal de contas, a população ocupada vai ganhar mais força no segundo semestre e essa população terá rendimento do seu trabalho, o que resulta também em uma maior demanda.