A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou um dado alarmante nesta última terça-feira (18/01). Quase três em cada quatro famílias disseram estar endividadas em dezembro do ano passado. Para sermos mais exatos, o número é de 74,5% do total das pessoas entrevistadas.

 

Como é feita a pesquisa

Conforme divulga o seu site, a pesquisa é feita todo mês. São entrevistados cerca de 2.200 consumidores. Ela é realizada com consumidores na cidade de São Paulo. O nome dado à pesquisa é Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC). No site da pesquisa é possível ver mais detalhadamente os números, baixando a tabela completa, ano a ano e mês a mês.

 

Maior número em 17 anos

Trata-se de um recorde histórico. Em 17 anos, desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2004, este é o maior número de pessoas que se disseram endividadas. 

O número vem crescendo mês a mês. Em outubro de 2021 era de 71,3%; em novembro, 73,5%. 

Já se for considerado o lapso de tempo de 1 ano, o crescimento total foi de 16,8%. Ou seja, em dezembro de 2020, 57,7% das pessoas disseram estar endividadas. 

Durante todo o período que a PEIC é feita, desde fevereiro de 2004, a média de endividamento é de 54,2%. O menor número tinha sido alcançado em fevereiro de 2015, 38,9% – quase a metade dos que se dizem endividados hoje.

 

Inadimplência diminuiu bem pouco, mas é maior que a média no período de 1 ano

Além da sensação de estar inadimplente, a pesquisa também faz um levantamento, daqueles consumidores que estão em situação de inadimplência. Isto significa consumidores que estão com contas em atraso.

Este número diminuiu bem pouco. Em novembro de 2021 era de 20,4%, e em dezembro de 20,2%. A média do período entre dezembro de 2020 a dezembro de 2021 foi de 19,16% de pessoas inadimplentes.

No entanto, chama atenção que apenas 7% das famílias endividadas não terão condições de pagar suas dívidas, segundo a pesquisa.

 

Como descobrir se estou endividado(a)?

Nós já comentamos aqui sobre pessoas em situação de superendividamento. Trata-se de uma hipótese que o Direito passou a proteger, quando as dívidas da pessoa não deixam com que ela sobreviva com o mínimo possível. Você pode ler a matéria sobre superendividamento aqui

Em artigo publicado em sua página do LinkedIn, Patríciah Froner, palestrante, professora em cursos de Administração e educadora financeira, apresentou seis sinais de endividamento aos quais o consumidor deve estar atento. São eles.

  • Estar negociando empréstimos, por não ter condição de pagar. Isto significaria que você está gastando mais do que pode pagar. Se você está nessa situação, seria a hora de rever todo o seu orçamento. A professora alerta que renegociar dívidas acarreta mais dinheiro gasto, com o pagamento de juros.
  • Usar o cartão de crédito como complemento de renda. Isto acontece, provavelmente, porque você começou a gastar mais do que pode. Assim, precisa cortar alguns gastos que estão sendo extra.
  • Pagar o mínimo do cartão de crédito. Pagar o mínimo do cartão, ainda mais quando isso é recorrente, faz você gastar mais dinheiro, com a incidência de juros sobre juros. Ou seja, os juros do próximo mês vão incidir sobre os juros que você já pagaria. Um exemplo: se eu devo 2 reais, e os juros são de 50% – metade, no segundo mês meu débito é de 3 reais, no próximo, já é de 4,5, no quarto mês, o valor do débito é 6,75 reais. Aumentou mais de 3 vezes em 3 meses. Não é uma soma, é um crescimento das dívidas de maneira muito mais devastadora.    
  • Ter mais de 30% do salário comprometido com empréstimos. Para fazer esta conta, você pega uma calculadora e multiplica seu salário por 0,3. Se este valor for menor do que o valor que você paga com financiamentos, fatura do cartão, cartões de loja, empréstimos, você deve estar alerta!
  • Emprestar dinheiro de amigos e parentes e não consegue pagar. Pedir dinheiro emprestado para amigos e parentes é muito grave, além de poder gerar rusgas em relações que são importantes para qualquer pessoa. Pagar essas dívidas deve ser meta, mesmo que você tenha que vender bens, roupas, livros e calçados.
  • Pedir adiantamento de salário, ou mesmo entrar em “acordo” de demissão. Os chamados “acordos” são legais, retiram direitos trabalhistas que você teria caso não fizesse este acordo. Da mesma forma, adiantamento de salário pode não ter nada de ilegal, mas mostra para muitas pessoas que precisavam saber que você está em situação financeira fora de total controle.

 

Conclusão

Agir com desespero nunca será a melhor solução.

Analisando os dados aqui apresentados, vemos que o número de pessoas que se consideram endividadas é muito diferente daquelas que realmente estão inadimplentes. Ainda, uma coisa é estar inadimplente, outra é não ter a capacidade de pagar. 

Assim, antes de cair em desespero, ou de se sentir protegido por créditos, é importante analisar corretamente a sua situação e agir da maneira como a sua situação financeira se encaixa.

Em uma metáfora, se você calça 36, um sapato 34 será tão desconfortável quanto um sapato 38. Os dois não se encaixam na sua realidade e necessidade.