Com base nas características fundamentais de risco, rentabilidade e liquidez, podemos definir o que desejamos priorizar no momento de aplicar o capital. Mas ainda há diversos outros qualificadores relacionados a cada uma delas, cuja consideração cuidadosa pode nos ajudar ainda mais a estabelecer, na prática, essa priorização.

Existe uma propriedade da rentabilidade que diz respeito ao tipo de variação que ela sofre durante o período do investimento. São dois tipos: a renda fixa e a renda variável.

Como são qualificadores do tipo de rentabilidade e, dadas as conexões intrínsecas entre as três características fundamentais, também afetam o risco e a liquidez. Vamos tentar compreender como isso ocorre.

Investimentos de Renda Fixa

Investir com renda fixa é, basicamente, ter uma ideia mais ou menos precisa da taxa com que o investimento vai render ao longo de determinado período de tempo.

Sempre que se investe com renda fixa, o que se faz efetivamente é emprestar o dinheiro para alguma instituição. Pode-se, por exemplo, emprestar dinheiro para o governo ao investir no Tesouro Direto. O governo usa essa forma de captar dinheiro para aplicar nas diversas áreas de sua competência: saúde, infraestrutura, educação etc.

Da mesma forma, os bancos precisam captar dinheiro para construir agências, campanhas de marketing, conceder empréstimos a clientes etc, e para isso emitem títulos CDB. Já as outras empresas privadas emitem títulos chamados debêntures para captar dinheiro para seus projetos.

Dado que bancos são, muitas vezes, empresas privadas, o que, então, diferencia os CDB das debêntures?

Existe um órgão chamado Fundo Garantidor de Crédito, o FGC. É uma instituição privada, sem fins lucrativos, da qual participam a Caixa Econômica Federal, os bancos, e outras entidades relacionadas ao mercado de investimentos e crédito.

Esse órgão garante que se recupere até R$ 250 mil de investimentos caso o banco receptor da aplicação venha a falir. Porém, os tipos de investimento que esse órgão assegura são limitados, e essa limitação estabelece a principal diferença entre CDB e debêntures: os CDB são cobertos pelo FGC, enquanto os debêntures não. Esse é um dos motivos pelos quais os debêntures costumam ter rentabilidade mais elevada que os CDBs, contrabalanceando o risco de perda mais elevado.

Num país como o Brasil, em que o investimento mais popular ainda é a caderneta de poupança, cujos rendimentos, inclusive, não foram capazes de compensar a inflação no ano de 2020, a garantia de cobertura por parte do FGC é um ótimo incentivo para movimentar esses fundos e aplicá-los em CDB.

Os investimentos de renda fixa se subdividem em três tipos: prefixados, pós-fixados e híbridos.

Títulos Prefixados

Os que adotam taxa de rendimento prefixada são os que possibilitam a determinação mais precisa do valor a ser retornado ao final do período. São investimentos adotados por investidores de perfil muito conservador, e que naturalmente, devido à segurança que fornecem, não possuem alta rentabilidade.

Porém, é importante ressaltar que, como o risco é inerente a qualquer investimento, na prática o que ocorre é que nem mesmo este que é o tipo mais previsível de rentabilidade, renda fixa prefixado, oferece previsibilidade absoluta.

A prefixação da taxa, inclusive, pode eventualmente prejudicar mais que ajudar. Basta imaginar que existe a possibilidade de a inflação superar a taxa de rendimento em algum momento durante o período. O capital, apesar de estar rendendo, estará, na realidade, perdendo mais valor do que é adicionado. Por isso esse tipo de investimento de renda fixa é recomendado apenas durante períodos em que as taxas de juros da economia estejam baixas e tenham tendência de se manter assim.

O Tesouro Direto é uma opção de investimentos dessa espécie, emitindo títulos com renda fixa e taxa prefixada.

Títulos Pós-fixados

Os que adotam taxa de rendimento pós-fixada usam como base indicadores econômicos, que são taxas conhecidas do mercado, variáveis. Alguns dos indicadores mais comumente utilizados são o IPCA, a Selic e o CDI, todos relacionados à inflação e às taxas de juros.

Esse atrelamento do rendimento a indicadores que flutuam ao sabor do mercado implica num aumento da incerteza quanto aos valores a serem resgatados no final do período mas possibilita a certeza de que os rendimentos vão se adequar à depreciação inflacionária ou a algum outro importante aspecto da economia. Dependendo do indicador usado por um investimento, pode-se garantir que seus rendimentos superem a inflação.

A Poupança é um investimento que se enquadra nesse tipo, com sua taxa de rendimento correspondendo a 70% da Selic. O Tesouro Direto também tem títulos pós-fixados, atrelados ao IPCA e à Selic.

Títulos Híbridos

Os que adotam taxa de rendimento híbrida são compostos por uma parte do rendimento prefixada e uma parte pós-fixada, atrelada a um indicador econômico.

Um exemplo de taxa de rendimento híbrida seria “IPCA+2,33% a.a.”. Dado que o IPCA é um dos principais indicadores da inflação, essa taxa híbrida garantiria uma taxa de rendimento fixa adicional à própria taxa de rendimento necessária para evitar a depreciação inflacionária.

Investimentos de Renda Variável

Investir com renda variável é não ser capaz de prever, com certeza e precisão, qual será a rentabilidade durante o período do investimento. Na verdade, nem mesmo o período do investimento é bem definido.

Essas indefinições são oriundas da natureza desse tipo de investimento, do que ele consiste, na prática. Enquanto os investimentos de renda fixa são empréstimos que se faz no intuito de receber um retorno com juros e/ou correção monetária, os investimentos de renda variável são compras reais. Ao investir, você adquiri um bem, um ativo, cujo valor flutua de acordo com os movimentos do mercado.

As ações se enquadram nesse tipo de investimento. Se a empresa cujas ações foram compradas publica um relatório financeiro que declara ganhos anuais abaixo do que se esperava dela, o valor dessas ações tende a cair. Esse é apenas um dos eventos que pode ocorrer no âmbito empresarial e que influencia o valor das ações. Mas é fácil imaginar tantos outros, como escândalos de corrupção na administração, obsolescência tecnológica etc.

Consumir com responsabilidade

Uma vez ciente dos tipos de investimento quanto à rentabilidade, e ciente de seus padrões de comportamento, é natural se perguntar qual deles escolher. A verdade é que o recomendado é escolher ambos.

É importante ter mais de um investimento, para que todo seu capital não fique preso numa aplicação de renda fixa de muito longo prazo ou seja comprometido em operações arriscadas com ações. É preciso diversificar seus investimentos conciliando segurança e possibilidade de ganhos significativos com risco razoável.

O recomendado é que se inicie a trajetória de investimentos na proporção de 8 fixos para 2 variáveis. Isso significa que 80% do capital deve ser investido em títulos de renda fixa e 20% deve ser investido em títulos de renda variável. Essa proporção é praticada por corretoras pois concilia de forma geralmente satisfatória os dois objetivos.

Ao adquirir mais experiência e confiança no mercado de investimentos, você compreenderá melhor o seu perfil de investidor e se sentirá confortável para alterar essa proporção, perseguindo com mais agressividade ou com mais comedimento seus objetivos financeiros.