O mês de janeiro foi marcado pela campanha Janeiro Branco, que visava gerar atenção para as doenças mentais e do comportamento.

Cresceu muito o número de pessoas com essas doenças, ou transtornos, por conta das mudanças de rotinas ocasionadas pela pandemia de Covid-19 e pelo isolamento social – que trouxe: desde muitas pessoas sendo demitidas; até pessoas que passaram a trabalhar de casa, em trabalho remoto ou um home office.

Aqui no financentro.com você pode ler uma matéria que mostra como a saúde mental passou a ser o fator que os profissionais elegeram ser o mais importante para a vida profissional. Isto porque, 75% afirmaram estar ansiosos com seus trabalhos. O link para reler essa matéria é esse aqui.

Também já passamos algumas informações sobre o Burnout – esgotamento profissional, como se proteger e identificar seus sintomas. Você pode ler mais  aqui. O transtorno de esgotamento, aliás, passou a ser considerado, desde o mês passado, uma doença laboral, ou seja, ligada com o trabalho, podendo até mesmo gerar indenização trabalhista.  

Hoje vamos falar sobre mais uma transtorno que tem a ver com a pandemia e com o trabalho.

 

A condição de Sísifo e a sensação de vazio

Antes de falar sobre o transtorno mental que ganhou o nome de Languishing, vamos contar uma pequena história da mitologia grega.

Sísifo era o nome do filho do deus do vento. Sísifo era considerado o mais esperto dos homens. Por enganar os deuses, ele foi condenado por eles a exercer um trabalho para a eternidade. Tratava-se de carregar uma pedra até o pico de um morro, e, quando atingia o ápice, a pedra caía. Este trabalho seria realizado por Sísifo pelo resto da vida.

No século XX o mito de Sísifo foi relembrado por um pesquisador chamado Alberto Camus. Para ele, a vida das pessoas às vezes parecia com a pena imposta à Sisifo – trabalhar, comer, dormir, trabalhar – muitas vezes sem encontrar um sentido para aquilo que estão fazendo, como se não tivessem escolhas para definir outro estilo de vida.

O mito de Sísifo também era usado nos campos de concentração nazistas. Colocava-se os presos para realizar trabalhos desgastantes e sem um objetivo, senão o trabalho pelo trabalho. 

 

Languishing. Entorpecimento da vida

O termo languishing, em inglês, significa, ao pé da letra, definhando.

Trata-se de uma sensação que não é necessariamente uma tristeza, um esgotamento, um cansaço, ou algo caracterizado como uma depressão.

O languishing se caracteriza mais como uma desmotivação para o trabalho, falta de animação, apatia. A pessoa que está passando por esse transtorno sente-se como se estivesse carregando, em suas costas, um peso que é invisível e constante. 

E assim como Sísifo, este peso carregado parece que não tem motivo nenhum para ser carregado. A diferença, porém, é que Sísifo sabia de sua pena. Já a pessoa que está em situação de languishing não tem consciência de porque realizada o trabalho de Sísifo, e nem sabe se esta condição será para a eternidade.

Outras características da pessoa que se sente definhando é sentir como se o coração estivesse apertado, respiração ofegante, e uma ideia de que o corpo vive sem um alma.

A caracterização do languishing é complicada, como a maioria das doenças mentais. Primeiro porque é um transtorno novo, de difícil caracterização até mesmo para os psiquiatras e psicólogos. Ainda, porque a pessoa não aparenta nenhum problema físico. Tem saúde, trabalho, alimentação correta, não possui dívidas.

 

Está apático? Procure um profissional!

Caso você se sinta nesta situação de apatia e de desmotivação, que não parece muito com uma tristeza ou esgotamento, primeiramente é bom que você procure um profissional da saúde mental para te ajudar.

Você pode ler aqui nessa matéria a melhor forma de se orientar sobre a saúde mental! 

 

Mais três dicas

A sensação de que está realizando um “trabalho de Sísifo”, sem sentido e exaustivo, pode ser contornada com algumas dicas:

  1. Considerar os aprendizados – talvez uma ideia seja não considerar que todo trabalho ou ação executada trará algum progresso. Algumas ações que fazemos podem nos ser úteis como aprendizados, apenas. Nem tudo que a gente aprende é para ser útil. Vivemos aprendendo coisas que não nos trarão retorno financeiro. Por que não pensar em trabalhos que servirão apenas para aprendizado, e não como progresso financeiro ou na carreira?
  2. Ter a queda como oportunidade – usar a queda da pedra de Sísifo como um aprendizado também pode ser um bom caminho para não cair na apatia. Cada vez que se faz um trabalho, mesmo os repetitivos – como carregar a pedra de Sísifo morro acima para que ela caia – é uma boa oportunidade de pensar em novas técnicas de se levar a pedra, de se fazer um trabalho. Mesmo que seja novas maneiras de fazer a mesma coisa, só que de maneiras mais divertidas e rápidas.
  3. Busque entender o seu papel para a coletividade – você ser uma pessoa que está acostumada a fazer sempre o mesmo trabalho faz de você a pessoa especialista naquilo. É o que o business chama de know-how – como fazer. Tente entender o seu papel para a coletividade da sua empresa ou mesmo da sociedade. Talvez o que você sinta ser um mero trabalho de levantar pedras todo dia, seja o motor que faz funcionar toda a engrenagem.